Para alguém que não deixei de amar

Nasceu em 1888, em Aveiro.
Passou dificuldades em criança.
Veio a ser Professora (dos primeiros anos, na altura dizia-se Professora Primária)
Inconformista, moderna, ferozmente independente, não gostava do método de ensino oficial e tentou mudar.
Lia revistas nas várias línguas que conhecia e foi assim que tomou conhecimento do método desenvolvido por Maria Montesori. Acabou por se corresponder com ela e por usar o seu método nas  aulas que dava.
Num tempo em que as reguadas, as orelhas de burro, etc, eram a norma, nunca bateu nem humilhou um aluno e em troca obedeciam-lhe apenas porque não a queriam desgostar.
Guardava anos a fio, com carinho, os cadernos de cada aluno. Os alunos continuavam a aparecer depois de adultos para a ver e lhe contarem das suas vidas, das suas profissões, dos casamentos, dos filhos...
Por vezes levava-me com ela para a escola e, para me entreter, dava-me o mesmo kit de letras recortadas e cubos, kit-método Montesori que dava a seus alunos. Foi assim que deram comigo a ler e a escrever com 4 anos de idade...
Casou  e viveu em Évora e foi a primeira senhora na cidade a usar a saia acima do tornozelo, a sair à rua sem chapéu , a entrar num café acompanhada dos filhos sem o marido ao lado.
O marido, aliás, adorava-a. Pela sua inteligência e pelo seu espirito e personalidade. E porque era linda.

Essa Senhora era a minha Avó materna, chamava-se Maria do Loreto e faria hoje anos se fosse viva.
Parabéns, Avó, espero que o Avô, o Tio João e a Tia Irene e todos os Anjos que já devem ter conhecido te tenham organizado uma festa de aniversário.